segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ralph Baer - O pai dos Videogames



Qualquer um que hoje em dia se diverte por horas a fio, jogando partidas online no seu Playstation, Xbox ou Wii, como se fosse a coisa mais normal no mundo, provavelmente não conhece a história por de trás de algo tão difundido em nossa cultura popular. Os mais veteranos até podem lembrar do clássico Atari 2600, ou do NES, numa época posterior. Mas a verdade é que essa nova mídia de entretenimento, que hoje rivaliza em volume de dinheiro envolvido com a multimilionária indústria do cinema, nasceu da mente de um humilde técnico de eletrônica, que na década de 1950 achou que se podia fazer algo mais diante de uma tela de TV do que simplesmente assistir. Seu nome: Ralph Baer.


Ralph H. Baer nasceu em 08 de março de 1922, filho de pais judeus, na cidade de Pirmasens, no sudoeste da Alemanha. Com a ascensão do nazismo na Alemanha, em 1933 Baer foi espulso de sua escola, apenas por sua origem judia. A situação se tornou insustentável, e em 1938, ele se mudou com sua família para a Holanda, e depois para os Estados Unidos.



O jovem Ralph Baer, servindo na Segunda Guerra Mundial


Já na América, o jovem Baer se envolveu com eletrônica, graduando-se como técnico de rádio do National Radio Institute em 1940. E, até 1943 dirigiu uma loja em Nova York, que consertava, além de rádios, alto falantes e  televisões. Essa carreira foi interrompida com a convocação para lutar, na Segunda Guerra mundial, pelo exército americano. onde trabalhou no serviço de inteligência. Curiosamente, Baer  não se transformou de um perito em rádios ou comunicações, como era de se esperar, mas sim um especialista em armas pequenas (pistolas, rifles, metralhadoras, etc,). Por pouco não foi enviado para o desembarque na Normandia, o famoso Dia D. Durante o treinamento, ele contraiu pneumonia, e foi enviado para um hospital militar, onde, de cama, ele completou um curso de álgebra por correspondência. Depois da guerra, em 1949, ele se graduou no American Television Institute of Technology, como um dos primeiros Bacharéis em Ciência em Engenharia de Televisão do mundo.


Esse é o diagrama esquemático do primeiro videogame


Foi na década de 1950, quando trabalhava na companhia Loral Comunications,  que produzia sistemas de defesa para o governo americano, que Baer teve o insight do que seria o primeiro console de videogame da história. Embora ele não seja o primeiro a pensar num jogo eletrônico envolvendo tubos de raios catódicos ( CRT- Catod ray tubes ) similar aos tubos de imagens das TVs mais antigas, Baer foi o primeiro que pensou num sistema dedicado a TV doméstica.  Desde a década de 1940, haviam sistemas rudimentares que simulavam alguma espécie de jogo, usando equipamentos como osciloscópios, e até telas antigas de radar, que usam telas CRT.




Tennis for Two, a esquerda o equipamento necessário para gerar as
 "imagens" no osciloscópio, à direita 


Em 1958,  havia o Tennis for Two, criado por William Alfred Higinbotham, que trabalhava no Brookhaven National Laboratory, uma instalação de pesquisa nuclear americana, e criou um simples passatempo eletrônico, que simulava um jogo de tenis para dois jogadores. E, em 1962, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), usando um minicomputador DEC PDP1, o estudante  Steve Russell e seus colegas Dan Edwards, Alan Kotok, Peter Sampson e Martin Graetz, criaram o primeiro jogo programado em um computador, Spacewar. Embora fossem passos importantes até a chegada do videogame, nenhuma dessas primeiras tentativas visava se tornara algo comercializável, geralmente eram só passatempos destinados aos próprios criadores, ou para poucos visitantes de institutos, que preferiam destinar computadores e sistemas avançados a aplicações mais "sérias". A grande sacada de Baer foi pensar desde o início num sistema doméstico, acessível, e que utilizasse TVs convencionais, sendo a verdadeira origem do videogame que conhecemos.


O Brown Box, com seu rifle ótico em primeiro plano


Em 1966, trabalhando na Sanders Associates, Baer apresenta seu protótipo, que já possuía alguns refinamentos, como exibir cores, reproduzir sons na própria TV, já contava com a primeira "pistola" ótica, em formato de rifle (sim, quem teve na época a pistola do NES ou Master System , e acho que aquilo era "ultra moderno" na época, se enganou!!). O inventor estava tão a frente do seu tempo, que imaginou algo que só se tornou realidade de fato recentemente:  um sistema chamado PCATV , ou Participatory Cable Television. A ideia era fazer parcerias com emissoras de TV a cabo locais, muito comuns nos Estados Unidos, de modo que imagens reais seriam transmitidas em canais específicos, como uma quadra de tênis, e o sistema na casa do cliente geraria imagens do jogo superpostas (um método conhecido hoje como genlock), e novos jogos poderiam ser "alugados" com a rede de TV local! De um modo bem rudimentar, é quase a mesma coisa que se faz hoje numa Microsoft Live ou na PSN da Sony, só que foi pensado muitas décadas antes da internet sequer ter sido concebida!




 Ralph Baer e Bill Harrison testando o Brown Box (1969)



 Era uma ideia muito ambiciosa, mas não foi adotada, em parte por que o sistema todo era algo que as empresas não compreendiam. O protótipo inicial era avançado, mas caro de se produzir, e uma versão mais simples, que se tornaria o hoje conhecido Brown Box, foi apresentado a diversas empresas de eletrônicos na época. Quem comprou a idéia foi a Philips, no caso sua  subsidiária americana, a Magnavox. Foi através dela que o Brown Box foi lançado ao mercado, como o primeiro console da história, o Odyssey 100.  



Odyssey 100, o primiro console de videogame do mundo!



Um detalhe curioso é que o protótipo inicial de Baer, anterior ao Brown Box, não só era mais avançado que o Odyssey 100, como ele estava muito a frente da maioria dos consoles lançados posteriormente. Até mesmo um rudimento de inteligência artificial foi imaginado pelo incansável Baer, para criar o que se tornaria o primeiro adversário "controlado pelo aparelho", já que essa primeira geração de videogames sempre exigia duas pessoas se enfrentando para que fosse possível jogar. O Odyssey 100 que chegou ao público era bem mais primitivo, incapaz de gerar sons, tudo o que o aparelho podia fazer era mostrar na tela de tv uma linha no centro, dividindo o "campo" de jogo, dois quadrados relativamente grandes, que faziam as vezes de raquetes, um menor que representava a "bola". O jogo mais simples era uma simulação de tênis bem básica, sem contagem de pontos na tela. Os outros jogos eram variações disso, usando os bizarros overlays, telas de celofane transparente, contendo os "gráficos" do jogo que deveriam representar. O sistema todo era extremamente simples, não contando com processadores ou memórias, apenas transistores e componentes discretos. Os jogos eram "armazenados" em jumpers gigantes, que eram apenas ligações elétricas simples que mudavam alguns parâmetros dos poucos gráficos que o sistema conseguia gerar. Existe uma discussão bem conhecida sobre o Odyssey 100 ter sido o primeiro sistema com cartuchos programáveis, mas o sistema era simples e primitivo demais para ser considerado assim. O que muita gente não sabe, é que Baer previu versões de cartuchos opcionais bem mais sofisticados, que acrescentariam novas funções ao console, incluindo as funções retiradas do protótipo original, permitindo jogos diferentes e mais diversificados. A ideia acabou não indo para frente.


Os Jumpers, numerados para cada jogo


Apesar de seu ineditismo, o Odyssey 100 não foi o sucesso esperado, em parte pelo marketing deficiente da Magnavox, que chegou ao ponto de afirmar que o aparelho só funcionava nas TVs fabricadas por eles, o que de fato era mentira. Esse boato negativo foi tão forte, que quando seu sucessor chegou ao Brasil, chamado de Odyssey2 nos Estados Unidos, mas apenas Odyssey por aqui, espalhou-se entre os jogadores que ele só funcionava "perfeitamente" nas TVs Philips, boato que não ajudou muito nas vendas do aparelho.



Esse é o "nosso" Odyssey, lançado aqui pela Phillips. 
Ele é na verdade o Odyssey 2, muito mais sofisticado que o  original 


Não foi só a rejeição por parte do público que Baer teve que enfrentar, logo surgiu um clone do Odyssey que mudaria a história dos videogames, criado por alguém tão significativo nessa jornada quanto Baer: Nolam Bushnell, fundador da Atari, conhece?  O jogo que ele "criou"? Um tal de PONG.... Bushnell merece uma história a parte, mas sua exagerada "inspiração" no Brow Box de Baer acabou por motivar um processo por parte da Magnavox , que acabou sendo deferido, com a Atari sendo obrigada a pagar US$700.000 por direitos infringidos.


Alguns dos inúmeros brinquedos eletrônicos desenvolvidos por Baer.
O primeiro em destaque é muito conhecido pela galera dos anos 80, 
mas aqui ele era chamado de Genius.




Depois do Odyssey, Baer não parou com suas idéias , tendo desenvolvido vários brinquedos eletrônicos, entre eles o Simon, que nós no Brasil conhecemos como o Genius, da Estrela S.A.  Hoje, aos 89 anos, ele possui mais de 150 patentes registradas, tendo inclusive trabalhado com equipamentos para lançamento dos foguetes Saturn V.  E, em 2006 foi condecorado com a "National Medal of Technology" pelo presidente George W. Bush por seu trabalho pioneiro na indústria dos videogames.





Conheça mais sobre esse incrível inventor acessando o seu site oficial:www.ralphbaer.com/



Um comentário: